AGULHA GUIA
Eliane Duarte
Inauguração: 14.02 — 21h30
Até: 24.03
Curadoria de Cláudia Saldanha
Com visita à exposição com a curadora | 22h00
Programação Paralela:
Master Class, 15 de fevereiro | 17h00
A Saco Azul e o Maus Hábitos, em parceria com a FBAUP, organizam:
"Agulha Guia - o percurso e a obra de Eliane Duarte"
- Oradores:
Cláudia Saldanha (curadora) e Efrain Almeida (artista plástico e escultor)
- Apresentação e moderação:
Rute Rosas (FBAUP)
Local: Aula Magna, FBAUP | Av. de Rodrigues de Freitas 265
"A exposição de Eliane Duarte reúne a produção da artista surgida nos anos noventa, no Rio de Janeiro, e interrompida prematuramente por sua morte em 2006. Eliane transformou em materiais suas pinturas iniciais. Recortava, dobrava e costurava. Virava as telas do avesso, costurava outra vez. Descobria superfícies e encobria outras. Assim, num trabalho de redefinição da própria obra, iniciou uma série de relevos (por assim dizer) que revelavam uma vasta experimentação em busca de novas formas até então relegadas ao plano bidimensional. Partia de sobras de telas, caixas de papelão, couro e também da pele de animais e as preenchia com algodão e outros materiais atribuindo volume e estranheza a seus objetos. Abdicava assim da tela como suporte de representação e construía superfícies, criava corpos estranhos como a descobrir-se a si mesma, seus gestos, seu próprio corpo, sua memória. Em uma entrevista Eliane afirmou “trabalho com agulha e linha como se fossem vísceras, meu intestino grosso e delgado... É através deles que existo e tento fazer arte. Com agulha e linha crio um pequeno mundo pra mim mesma, onde tento me entender”. O poeta Chacal, irmão da artista, escreveu certa vez “Eliane vai buscar lá onde o som ainda é murmúrio, onde a forma ainda é esboço, rascunho, estranheza... com isso a forma vem sem filtro como escrita automática, com a liberdade extrema de quem inventa em cima do vivido”.
Os anos noventa foram de intensa produção reconhecida por um primeiro prêmio no Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte com a obra Veste, em 1994. Com esse prêmio ganhou uma viagem ao exterior e sua obra foi incluída na coleção do Museu Nacional de Belas Artes do Rio. Outras importantes mostras viriam a seguir como sua primeira individual na Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio, em 1996; na Galeria Camargo Villaça, em São Paulo, em 1998, a convite de Marcantonio Villaça; e na Galeria Canvas, no Porto, em 2001, a convite de José Mário Brandão. Participou também de relevantes exposições coletivas como “Entretelas”, no Museo Alejandro Otero, em Caracas, Venezuela, com Iole de Freitas e Beatriz Milhazes; “Os 90”, no Paço Imperial do Rio, em 1999; e nas Cavalariças da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com Marcia X. e Lina Kim, em 2003.
Eliane não deixou muitos registros de suas obras. Era uma pessoa quieta, pouco falava e não frequentava o substrato social do meio artístico. Premonitoriamente parecia compreender que precisava dedicar-se a seu ofício sem interrupção. Pode-se dizer que seu trabalho pertence a uma genealogia bastante vigorosa da arte latino-americana. Eliane admirava a obra de Lygia Pape, de Hélio Oiticica e de Lygia Clark (especialmente sua última fase – a dos objetos relacionais). A mesma admiração estendia-se à obra de Brígida Baltar, com quem dividiu ateliê, de Efrain Almeida e de
Marcia X. Com todos manteve um intenso diálogo. Revelava grande fascínio por Rembrandt e pela série de pinturas negras de Goya.
Esta mostra traz à tona a atividade fugaz mas de grande valor de Eliane Duarte. Amigos próximos colaboraram com alguns fragmentos de memória — uma foto, uma entrevista, um desenho. Duas obras da coleção da Galeria Graça Brandão estão em exposição. Criaturas da Noite participaram da mostra Esculturas como Cicatrizes, no Porto, na Galerias Canvas. Executadas em tecido e cobertas de cera de abelha e pigmentos, esses estranhos órgãos tridimensionais nos revelam o vasto universo de referências acionado pela artista em sua obra. Com o conjunto de fotografias e documentos apresentados buscou-se conectar fatos, vestígios, indícios.
A distância e a ausência são fatores que deterioram nossas lembranças. Mas a poesia de Chacal nos faz alcançar elos perdidos nesse emaranhado de estilhaços depositados de maneira esparsa e indisciplinada em nossa memória."
Claudia Saldanha
ELIANE
eliane costura
roc roc roc
eliane vê a vida de viés
e não gosta do que vê
eliane explode tudo
catapimba! catapum!
eliane tece a vida divergente
cria bichos mantos fantasmas
eliane faz da agulha sua guia
e da linha sua língua
eliane se recria na arte
eliane de carvalho duarte
roc roc roc
Chacal
Agradecimentos:
Adelmo Lapa
Catarina Rangel Pereira
Catarina Silva Martins
Chacal
Daniel Pires
David Irwin
Efrain Almeida
FBAUP
Galeria Graça Brandão
Gualter Barros
José Mário Brandão
Kiko Richard
Letícia Verona
Lumen
Mariana Vitale
Ricardo Ventura
Rute Rosas
Vicente de Mello
Wilton Montenegro