Trés à table

Manuela Ribeiro
11/22/2025

1/24/2026
18:00

Manuela Ribeiro
http://www.manuela-ribeiro.com

Na adolescência, a minha imagem representava um meio de expressão, uma forma de afirmar a minha singularidade. Assim, a roupa proporcionou-me uma grande liberdade criativa. Nascida em Portugal em 1966, durante a ditadura de Salazar, a costura, o croché e o bordado fazem parte da minha herança. Esses conhecimentos tradicionais recebidos, muitas vezes até contrariada, integram o meu ADN.» 

Manuela Ribeiro iniciou a sua carreira criativa, no Porto, em 1985. Autodidata, abriu uma loja de moda punk-rock “Risco”, onde vendia os modelos que desenhava e confecionava no seu atelier. Rapidamente, sentiu a necessidade de se formar tecnicamente para ganhar liberdade e dominar todos os processos necessários à criação de peças de vestuário. Mudou-se para França, onde obteve formação na área da moda, designadamente certificações oficiais em costura, estilismo, modelismo e figurinismo o que lhe permitiu atingir os seus objetivos.

Enquanto trabalhava como figurinista para o teatro, cinema e ópera, em 1996 abriu uma loja “Aniki”, lançando ainda uma marca epónima. Consequentemente, iniciou a encenação das suas criações em desfiles-espetáculos, organizados em locais atípicos e institucionais, emblemáticos da região do Grande Oeste, como a “Usine Lu”, o palco nacional do “Olympic”, a” Cité des Congrès de Nantes”... 

Interessada pelos movimentos feministas e pela questão do lugar da mulher na sociedade, a sua abordagem inscreve-se numa reflexão sobre o ser e o parecer e questiona a própria noção de identidade. 

Em Paris, no ano 1999, propôs à concept store « Territoire » a criação de um laboratório de reciclagem que ela batiza de «ressurreição». 

Em 2001, instalada no seu novo atelier parisiense, desenvolve outro conceito inovador: a recolha de «roupas-memórias», acompanhadas de confissões íntimas, que transmuta, agraciando os seus clientes com criações personalizadas, impregnadas de um forte valor simbólico. O seu espaço, num n.º 13 de Montmarte, tornou-se num verdadeiro laboratório de alquimias artísticas, de onde surgiu o coletivo artístico ”Alma Nue” - uma associação criada para desenvolver projetos artísticos pluridisciplinares. 


Os «têxteis de afetos» são a minha forma de despertar memórias. Eles fazem emergir narrativas cuja trama e urdidura são compostas pelo consciente e pelo inconsciente, dando origem a histórias individuais, familiares, sociais e políticas... é esse fio condutor que orienta o meu trabalho. Estas «segundas peles» falam muito além da aparência. Pelo seu valor afetivo e significado, simbolizam o vínculo de confiança estabelecido com o seu proprietário. Uma experiência inspiradora que potencia o desenvolvimento de obras significativas.»

Manuela Ribeiro compreendeu o que sentia intuitivamente, desde sempre... A roupa fala-nos e fala de nós, representa-nos, para além da moda e suas tendências. A relação do ser humano com os têxteis não se singe à simples roupa. Trapos, fraldas, panos, lençóis, mortalhas, bandeiras... estão presentes nas nossas vidas e revelam o que somos: como indivíduos e como nós formamos sociedade.

Curiosa e determinada na sua busca de sentido, inscreveu-se no Conservatório Nacional de Artes e Ofícios no mestrado de Mediação Cultural. Convidada pelo diretor para integrar uma residência de artista, ela refina e formaliza o seu processo criativo organizando um espaço expressivo em torno de um «têxtil ou objeto de afeto». Resultando numa coletânea de histórias que contribuíram para reforçar a sua reflexão. As instalações e fotografias apresentadas são o resultado dessa abordagem, fruto de um trabalho pessoal integrado em práticas coletivas. 

«Considero os têxteis que fazem parte do nosso quotidiano como uma prova da nossa existência. As minhas criações questionam as nossas histórias individuais, familiares, sociais e políticas; em suma, questiono a nossa humanidade face às mutações do mundo.»


Trés à table

Manuela Ribeiro apresenta obras que reúnem e sintetizam um ano de criação em residência artística em Paris. Intitulado «paroles de torchons» (palavras de panos de cozinha), este tecido, bordado durante encontros culinários à volta de uma mesa, foi adotado pela artista como meio para libertar a palavra.

A mesa e os seus atributos, nomeadamente têxteis, apelam a todos os nossos sentidos e cristalizam nas nossas memórias os momentos marcantes da nossa existência. A mesa é o símbolo de uma cultura e carrega os sinais das nossas diferenças e semelhanças. 

A mesa e o que nela se passa, enquanto espaço privilegiado de encontros, permite a cada um invocar histórias individuais e familiares.

As fotografias apresentadas, inspiradas no quadro «A Última Ceia», de Leonardo da Vinci, confrontam as nossas dúvidas e certezas, as nossas crenças e esperanças, à luz do que a artista denomina «o caminho do erro». Este caminho de aprendizagem que nos ensina que somos seres livres, e o confronto entre essa liberdade e a responsabilidade. 

A sua interpretação é decididamente contemporânea, destacando a relação entre o sagrado e o profano.

Manuela Ribeiro oferece ao olhar um vaivém que, tal como uma conversa, deixa espaço para questionamentos, como «in-dagar». 

A mesa da partilha e os seus atributos tornam-se num espaço de troca, de reflexão e de criação onde, entre pontos de bordado e alimentos partilhados, as palavras dos panos de afetos conduzem a um amplo questionamento sobre as nossas individualidades, em suma, sobre a nossa humanidade! 



25.11.22 Trés à table

Ficha Técnica


Foto: Manuela Ribeiro. 

Instalação: «Paroles de torchons »  Ceia participativa de fim de residência artística 

Espaço de acolhimento: “Le Vent se lève, lieu de recherche de création et de paroles partagées”.

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